Reabilitação Esportiva: Considerações Psicológicas
No blog anterior escrevi sobre aspectos psicológicos que levam à lesão esportiva e como podemos reduzir sua ocorrência. No entanto, lesões são um risco inerente à prática esportiva que, por mais que tentemos evitá-las, estão fadadas a acontecer. Por isso é importante entendermos os impactos psicológicos que lesões têm no atleta para que possamos melhorar o tempo de recuperação e aumentar a motivação e aderência à reabilitação.
Modelos criados baseados em pesquisas descrevem três tipos de respostas psicológicas para a lesão: respostas emocionais, respostas cognitivas e respostas comportamentais. As respostas emocionais se referem a forma como o atleta se sente em relação à lesão. Sentimentos de depressão, frustração, medo e preocupação são comuns imediatamente após a lesão, porém nas semanas seguintes atletas tendem a sentir emoções mais positivas como determinação e motivação. As respostas cognitivas são a forma como o atleta interpreta a lesão. Por exemplo, se ele acha que tem controle da situação ou não, se ele se sente inútil ou se interpreta aquilo como uma parte do esporte, etc. As respostas comportamentais se referem ao que o atleta faz com relação à lesão. Elas incluem desistência ou aderência ao programa de reabilitação, buscar se distrair, buscar apoio social ou o isolamento.
Não surpreende que sentimentos, pensamentos e comportamentos positivos estão associados a um menor período de reabilitação, melhor aderência ao processo de reabilitação e menor risco de reincidência da lesão. Atletas que sentem que têm a lesão e o processo de recuperação sob controle, que veem a lesão como uma parte do esporte, que encaram o processo de reabilitação com determinação e motivação, que procuram formas de se distrair e se divertir e que procuram apoio de familiares, amigos e companheiros de equipe se recuperam melhor e mais rápido.
Dicas psicológicas para ajudar na reabilitação:
Estratégias psicológicas para ajudar a reabilitação incluem ajudar o atleta a lidar com as emoções negativas, a controlar a situação e a guiá-lo na buscar os recursos necessários para a reabilitação.
Dica 1: Entenda que a lesão faz parte do esporte e se mantenha motivado e determinado: Quando atendo atletas lesionados, começo sempre trabalhando com seu lado emocional. Apesar dos sentimentos negativos que surgirão imediatamente após a lesão, o atleta precisa aceitar o que aconteceu e entender que a lesão faz parte do esporte. Quanto mais rápido ele superar as emoções negativas, mas cedo ele pode se concentrar no processo de reabilitação e voltar ao esporte.
Dica 2: Saiba o que você pode fazer para diminuir o tempo de reabilitação: Uma vez que o atleta esta motivado e determinado para se concentrar na sua reabilitação, ajudo o atleta a perceber que ele tem a sua recuperação sob controle. Uma vez que o médico ou o fisioterapeuta recomenda exercícios, o atleta deve encará-los com a mesma seriedade e determinação que seu regimento de treino. É importante reconhecer que sempre há coisas que o atleta pode fazer para reduzir o tempo de reabilitação. Mesmo se a recomendação dos médicos ou fisioterapeutas for descansar, o atleta deve encarar isso como uma tarefa a ser cumprida (para muitos, uma tarefa mais difícil do que o exercício).
Dica 3: Mantenha uma lista de tarefas: Para que o atleta siga o programa de reabilitação corretamente é importante que ele saiba exatamente o que deve ser feito, quando e com qual frequência. Para isso recomendo criar um calendário com as tarefas diárias (ex.: gelo, exercícios de fortalecimento, remédios, etc.) e uma avaliação semanal. Esta avaliação deve incluir notas com valores objetivos (de força ou flexibilidade) e subjetivos (de sensação). Ver o progresso da reabilitação ajuda o atleta a se manter motivado no longo-prazo.
Texto publicado no Projeto Eu Atleta, no GloboEsporte.com: http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/